terça-feira, 31 de março de 2009

Blindness + Abrazos Rotos


Essa semana mal começou e já posso dizer que é uma "Semana de Cinema".

Ontem à noite, fui com a Rea, o Thomas, o Attila e uma amiga dele ver "Ensaio Sobre a Cegueira" (Blindness), que aqui foi chamado de "A ciegas". O filme, baseado no clássico de Saramago e dirigido por Fernando Meirelles, estreou no Brasil em setembro, mas só foi lançado por aqui esse mês. Eu até pensei em ver antes de vir, mas preferi esperar e ler o livro primeiro.


Nunca tinha ido ao cinema aqui, porque nao existe meia entrada pra entudante e o pouco desconto que dao ainda faz com que seja caro - o ingresso mais barato sai a 5,60. Mas o pessoal insistiu muito e no fim a Rea bateu o pé que me convidava. Em outras palavras, pagaria minha entrada. Eu falei que nao, que nao tinha nada a ver. Mas aprendi que também é falta de educaçao você se negar a receber uma cortesia de alguém que insiste em te proporcionar aquilo.

Além disso, eu tava louco pra ver o filme, porque o livro é incrível. Entao aceitei o convite e decidi que quando sobrar um dinheirinho eu retribuo a cortesia.

Foi bem legal. A adaptaçao foi fiel ao livro e o filme, independente disso, é muito bom. Forte, inteligente, pesado. A fotografia é excelente.

O pessoal também curtiu bastante.



Já hoje de manha, mais um filme.



Dessa vez, de graça e aqui na faculdade, como já rolou antes. Fizeram uma sessao pra promover o novo filme do Almodóvar, "Los Abrazos Rotos", estrelado por Penélope Cruz.
O filme é interessante e tem boas atuaçoes. Mas nao foge dos temas recorrentes que o diretor espanhol sempre aborda nas suas obras: amor, traiçao, homossexualismo, cinema.




Depois da sessao, um roda de perguntas com o produtor do filme e 2 dos atores. Claro que todo mundo queria ver Penélope e Almodóvar, mas a primeira agora é famosa demais pra ter uma agenda disponível, e o segundo provavelmente deve estar divulgando o filme em outros países.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Botellón en mi piso


Sexta eu resolvi juntar a galera lá em casa e levar todo mundo de lá direto pra discoteca. Pensei que seria a melhor maneira de juntar as pessoas e cumprir a meta.

Serviu também pra inaugurar a casa e convidar os amigos para conhecê-la, já que desde que me mudei, há quase 2 meses, nao tinha feito nenhuma reuniao no novo apê.

Foi uma noite divertida, apesar do trabalho normal que se tem quando se convida pessoas. Mas depois de ter morado 1 ano em república, eu já estava sentindo a maior falta de ter os amigos frequentando a casa sempre. Espero que possamos fazer "botellones" mais vezes por aqui também.

Todo mundo ficou encantando com o apartamento, principalmente pela sala, que é enorme, e pelas varandas, tanto a da sala quanto a que eu tenho anexa ao meu quarto. Ah, pela cozinha também, que é enorme. E eu, claro, falei que tinha ficado deslumbrado quando fui visitar o lugar, apesar do quarto ser super pequeno.

Antes de ir embora, a galera ainda "assinou" na geladeira (e eu senti saudades das paredes desenhadas da rep).



No fim das contas, foi bem menos gente do que eu esperava. Muitos estavam viajando e outros deram as desculpas educadas de sempre pra nao ter que se deslocar. Apesar de estar curtindo com o pessoal, eu já tava certo de que nao seria possível conseguir as 15 pessoas.

Até que chega uma amiga italiana da Bruna com mais 5 conhecidos, todos italianos. Foi a salvaçao! De 7, o número de presentes saltou a 13. Mas ainda faltavam 2 pessoas. No caminho até a balada, 2 italianos desistiram de ir, e quando eu já tava desesperado por nao conseguir a meta por pouco, apelei pra um grupo de desconhecidos na fila e coloquei eles pra dentro pela minha lista.



18 pessoas no total. Yeah! "Os 18 do Bernardo", como diria o Marquinhos.

E depois do "esquenta" lá em casa, a gente fez a festa na discoteca até as 4 da manha.

Yes, We Can!


Ao melhor estilo Obama: Consegui!

Ou melhor, conseguimos!

Nesse fim de semana, por fim, consegui cumprir a meta na Reina Bruja e coloquei mais de 15 pessoas pra dentro. E, o melhor, duas vezes! Na quinta e na sexta. Agora espero, ansioso, pelo pagamento: 120 euros!

Foi difícil e super estressante, mas no final deu tudo certo. Valeu a pena!

E eu nunca teria conseguido isso sem a ajuda dessas pessoas aí da foto acima. Amigos queridos que, além da companhia pra quase todas as horas e muitas gargalhadas, têm me ajudado muito, e sem pedir nada em troca Mari, Attila, Tali, Marquinhos, Tanain, Bruna e Thomas. (É, quase todo mundo é brasileiro. E nao posso achar que seja à toa...)

Entao, a única coisa que posso fazer é agradecer: pela presença, pela ajuda e, principalmente, pela amizade.


Quanto ao "salário", nao é lá grandes coisa, ainda mais que tou há quase 1 mês trabalhando lá. Mas é melhor que nada. E virá numa hora excelente, já que esse mês eu acabei gastando mais do que o planejado e estava quase no vermelho.

O único problema é que, dos 120 euros, 20 foram investidos num pretexto pra juntar as pessoas na sexta.

E, do que sobra, uma boa parte terá de ser gasta em roupas "elegantes" e em um par de sapatos. Porque se for pra continuar como promoter, nao vou poder enrolar meu chefe quanto à necessidade de comprar roupas por mais um mês. E, muito menos, tenho saco pra ser barrado de novo na porta (só por curiosidade, nao me deixaram entrar esse sábado mais uma vez, só porque nao estava de sapatos. Só nao me estressei porque no fim achei ótimo, já que nao tinha as 15 pessoas, tava morto de cansado e doido pra voltar pra casa).

quinta-feira, 26 de março de 2009

El metro que todos quisieran tener


"O metrô que todos quiseram ter, vive em Madrid".

Esse é o slogan de uma das campanhas do Metro de Madrid, divulgada entre o final do ano passado e o comecinho desse ano.


A afirmaçao é um tanto presunçosa, principalmente levando em conta que o metrô de Londres tem uma rede mais extensa, e o de Viena é impecavelmente limpo.

Mas, comparando com a rede de qualquer cidade brasileira (das poucas que tem), o metrô daqui é de dar inveja.

Sao 12 linhas, sendo que 11 passam pela cidade e 1 circula apenas nas cidades suburbanas ao sul da capital. Tem ainda um ramal, que funciona apenas entre 2 estaçoes de linhas diferentes (Ópera e Príncipe Pío). Cada linha é identificada por um número e uma cor. E por muitas estaçoes passa mais de uma linha.

Na estaçao Casa de Campo, a mais próxima da minha casa, passam as linhas 5 e 10, por exemplo.

No total, sao mais de 300 estaçoes na área metropolitana, sendo que parte considerável está dentro dos limites da cidade de Madrid.

Ou seja, se deslocar dentro da cidade é muito fácil. E ir e vir de cidades vizinhas também.

No centro, as estaçoes estao tao próximas que às vezes é melhor caminhar de uma à outra do que pegar o metrô e fazer a troca de linha.

Além das cores, faz parte do sistema de identificaçao visual o losango vermelho com a palavra "metro" escrita em branco, num retângulo azul. Logo abaixo costuma vir o nome da estaçao correspondente.





Acima das entradas, sempre há uma placa com o nome da estaçao e do acesso (porque a maioria das estaçoes têm mais de uma entrada/saída), o que permite sair da estaçao pelo lado certo apenas ficando atento às placas informativas distribuídas desde a plataforma. Permite também marcar de encontrar a galera na saída exata, em vez de ter que ficar procurando.

Abaixo desse nome, sempre existe a informaçao de quais linhas servem àquela estaçao.

Nas plataformas, uma placa eletrônica informa quanto tempo leva pra chegar o próximo trem. Nem sempre funciona bem, mas em geral o tempo aproximado é confiável.



E também na plataforma existem placas com as estaçoes seguintes e as respectivas correspondências - sejam outras linhas de metrô ou cercanías Renfe, que sao os trens urbanos.


Os trens sao bem variados.

Em algumas linhas, circulam só trens novos. Eles têm portas com um botao que você deve apertar caso queira entrar ou sair, além dos vagoes estarem todos interligados, o que permite percorrer todo o trem em busca de um lugar pra sentar. Em alguns funcionam tvs, que transmitem uma programaçao interna, presente também nas estaçoes.




Outros trens, em vez do botao, possuem manivelas mecânicas mesmo. E, claro, há muitos trens em modelos antigos, parecidos com os de Sao Paulo. O bom é que aos poucos estao sendo substituídos e os modelos novos já sao maioria.

A peculiaridade de Madrid é que aqui todos os vagoes possuem cadeiras com o recosto encostado na janela, de maneira que você sempre se senta de frente pra quem está do outro lado.

As estaçoes, quase todas, tem cara de novas. Constantemente estao sendo reformadas e remodeladas, até porque muitas sao antigas.

O que incomoda sao as obras, já que nessas estaçoes a plataforma fica muito estreita e o acesso é meio confuso.

O grande defeito do metrô de Madrid mesmo sao as trocas de linha. Em alguns casos é quase surreal o percurso a percorrer pra ir de uma linha a outra. Exemplo: em Plaza de España, é preciso subir 1 escada a pé, 2 escadas rolantes, cruzar um pátio e descer uma outra escada escada pra ir da linha 10 à linha 3. E esse é só um dos exemplos.

Outro problema é o tempo que o metrô leva parado nas estaçoes, ou, pior, entre elas, no meio do túnel. Nao sei a explicaçao, mas quando há pressa é bem irritante.
Mas claro, nada que tire o mérito de um metrô com uma ótima rede, um bom serviço, preço acessível e limpo, além de muito seguro (com excessao dos carteiristas).

terça-feira, 24 de março de 2009

Rodin y Vlaminck en la Caixa Forum


Na quarta passada, véspera de feriadao aqui, eu fui em mais um dos muitos espaços artísticos de Madrid: Caixa Forum.

É, o "Caixa" se escreve assim mesmo porque, se nao me engano, o banco é catalao - e portanto o nome também.

A localizaçao também é ótima: quase em frente ao Museo del Prado, perto do Reina Sofía e a 1 quadra da estaçao de metrô Atocha. Fácil de chegar. E o melhor: totalmente gratuito.

Além de muitos andares, o prédio conta com um jardim vertical em uma das paredes externas que chama atençao de qualquer viandante.



E as atuais exposiçoes mereciam mesmo uma visita.




A mais destacada se chama "Rodin en la calle", e é uma mostra de esculturas do famoso autor de "O Pensador", expostas na calçada em frente ao prédio, pra qualquer um que queira "perder" alguns minutos com a riqueza de detalhes e a expressividade de cada obra.






A outra, num andar interno, é dedicada a Vlaminck, um dos pintores mais conhecidos do que se chama "Fauvismo" (um dos "movimentos" artísticos contemporâneos que se destacava pela utilizaçao de muitas cores, sobretudo as mais fortes).



Passei um bom tempo analisando os quadros e lendo os textos da exposiçao. Fiquei feliz de entender bem o contexto e reconhecer nas pinturas as características fauvistas que eu tinha estudado na minha matéria de Movimientos Artísticos Contemporáneos. Inclusive alguns quadros até me soaram familiares.

Nao virei nenhum especialista, claro, mas hoje tenho muito mais noçao de arte do que tinha antes de vir. E era essa mesma a idéia de cursar a disciplina.

Conhecimento nunca é demais, afinal.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Volta (re)marcada


Hoje, 23 de março, faz 6 meses que eu pisei em terras espanholas pela primeira vez. Por isso, hoje seria também o dia em que eu estaria de volta ao Brasil, de acordo com os planos inicialmente traçados.

No fim das contas, acabei mesmo levando adiante a decisão de ficar mais um tempo por aqui. E, apesar de toda a dificuldade em conseguir um trabalho decente que me pague qualquer salário que ao menos sirva pra me manter até a volta, não me arrependo nem um pouco da decisão.

Continuo batalhando. E, enquanto o emprego não aparece, aproveito. Pra conhecer pessoas e lugares novos, pra sair quase todos os dias, pra aproveitar os intermináveis dias ensolarados de começo de primavera e pra fazer ainda mais amigos.

Enfim, pra viver tudo de melhor que Madrid possa me oferecer.

Inclusive aprendendo a valorizar cada qualidade do meu – do nosso – país, tão desmerecido pelos próprios brasileiros quanto cheio de reais problemas. Mas com uma cultura e um jeito de viver – e sobretudo de tratar as outras pessoas - que não existe em nenhum outro lugar do mundo. Saudosismos à parte, o Brasil tem uma alegria própria à qual é muito difícil ficar indiferente. Alegria que é nossa. E que anos e anos de exploração e descaso nunca conseguiram tirar.

E, antes que eu esqueça, quero agradecer a cada um que me ajudou a estar aqui. Vocês sabem o quanto sonhei com o intercâmbio e o quanto foi importante poder realizar isso. E agradeço obviamente por toda a força que tenho recebido, de todas as formas possíveis, do dia em que cheguei - completamente perdido no novo Velho Mundo - até a minha decisão de ficar.
De verdade, MUITO OBRIGADO!

E já que o assunto é Brasil, minha volta já tem data marcada. Numa provável fria manhã de julho, em pleno inverno paulistano, volto a pisar em terras brasileiras, depois de quase 10 meses do outro lado do Atlântico.

Anotem a data: 19 de julho de 2009.

Quero uma recepção com cartazes, faixas e show de Ivete Sangalo.

Mas tudo bem, eu me contento com um abraço apertado e o sorriso – aquele, alegre, e só nosso – no rosto de cada pessoa querida.

Mega beijo.

terça-feira, 17 de março de 2009

Amigos e 100 montaditos

Nesse fim de semana, mais dois ecanos se juntaram ao já grande grupo de brasileiros em Madrid. Mas dessa vez a visita foi por poucos dias, infelizmente.

A Mari Amorim e o Thiaguinho estao fazendo intercâmbio no sul da França, em Aix en Provence, e aproveitaram a proximidade geográfica e a presença ecana por aqui pra fazer a primeira viagem "internacional" pra Madrid.


De sábado a ontem à noite foram dias super divertidos. Saímos muito, conversamos ainda mais, fizemos roteiros por bares e ruas agitadas de Madrid e, como nao podia deixar de ser, rimos muito e começamos a pensar em uma grande viagem juntos lá pro meio do ano.

Ontem, no dia da despedida, saímos do Parque del Retiro depois de aproveitar mais um dia ensolarado e fomos até os famosos 100 Montaditos, perto da Ópera.


100 Montaditos é uma rede de restaurantes presente em vários bairros, famosa pelos pequenos sanduíches vendidos a partir de 1 euro. Sao 100 tipos de recheio, de onde saiu o nome. E eles sao servidos em uma bandeja de madeira, acompanhados de batatas-fritas.


Na quarta, eles vendem tudo do menu por 1 euro, inclusive um copao de cerveja e os "montaditos" mais caros (que nos outros dias custam 1,20 e 1,50).

E a loja perto da Ópera, bem no centro de Madrid, fica lotada todas as semanas, exatamente nesse dia. É tao cheio que pra arrumar mesa é quase impossível. E a fama já fez do lugar um dos pontos turísticos obrigatórios em qualquer roteiro pela cidade.

Ontem, segunda, obviamente nao estava cheio. Deu pra escolher a mesa e até pra prestar atençao na decoraçao das paredes e nos azulejos do chao.


Mas é claro que todas as atençoes se concentraram na mesa: pelos mini-sanduíches ("bocadillos" em espanhol), pela cerveja barata e, principalmente, pela presença dos amigos.

sexta-feira, 13 de março de 2009

¡Primavera!


A primavera no Hemisfério Norte só começa dia 23/03. Mas em Madrid o frio já foi embora definitivamente.

No domingo passado, um mega sol e temperaturas acima dos 22 graus lotaram as ruas da cidade. Parecia que todo mundo tinha decidido sair de casa pra aproveitar o bom tempo e dar adeus aos dias de muita roupa e pouco lazer ao ar livre.



Aproveitamos o bom tempo e improvisamos um piquenique no Parque del Retiro, que é um dos meus lugares preferidos de Madrid. E a ocasiao serviu também pra juntar a galera e pra Mari e pra Talita conhecerem o lugar.


Obviamente, o parque estava lotado! Parecia um domingo de verao: gente fazendo esportes, tomando sol na beira do estanque, muitos turistas, músicos e artistas de rua.

Foi uma tarde muito divertida na companhia de amigos, em maioria, brasileiros.

Quando já anoitecia, a muvuca tava formada no monumento principal do parque: um monte de gente se concentra ali pra fazer aulas de percussao com imigrantes africanos. E outro monte de gente vai ali pra ver e ouvir as aulas e as apresentaçoes de outros percussionistas.



Mas claro, como bons europeus, eles ficam só olhando.
E eu tive certeza de quanto eu gosto de ser brasileiro quando percebi que nós éramos um dos poucos grupos que em vez de só assistir, ensaiava uns passos e fazia brincadeiras no estilo carnaval de rua.
Já indo embora, a paisagem merecia mais uma foto. Duvido que alguém discorde.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Adiós o hasta luego



Na semana passada, antes de aparecer esse "trabalho" que virou minha vida de cabeça pra baixo e até agora nao trouxe nenhum resultado, rolou a despedida do Francisco.

Fizemos uma mega despedida pra que a data nao fosse triste e pra aproveitar o último fim de semana do grupo do albergue quase todo junto.

No sábado, nos encontramos na Puerta del Sol e fomos a um bar chamado "Mi Madre Era Una Groupie". Tirando a Karine, que estava viajando, foram todos. E ainda a Amy, uma amiga norte-americana da Rea que veio passar o fim de semana em Madrid.


Como de costume nesse bar, onde fomos já algumas vezes, nos ofereceram uma dose de tequila grátis. Ficamos lá a noite toda, ouvindo rock inglês, dançando bizarramente e dando muita risada.



No domingo, fomos no "El Imperfecto", um bar na Calle de las Huertas, super barato, onde costumávamos ir sempre. O bate papo se estendeu madrugada a dentro e depois que as meninas foram embora, chegou o Thomas. E ficamos eu, o Átila, o Francisco e ele batendo papo até o bar fechar.


O "adiós" mesmo aconteceu na Plaza de Cibeles, à espera dos respectivos ônibus noturnos pra voltar pra casa.

Adeus, nao. Até logo. Afinal, Santiago do Chile nao está tao longe de Sao Paulo. E além de eu ainda nao conhecer a cidade, já tenho hospedagem e guia turístico gratuitos por ali também.

terça-feira, 10 de março de 2009

Brigando com a Lei de Murphy

Meus primeiros dias de trabalho foram uma verdadeira odisséia.

A minha idéia inicial de ir nos albergues e deixar a lista pras pessoas se inscreverem pra discoteca nao deu certo. Fui em vários na quarta-feira, e só um autorizou colocar a lista. Em geral eles nao permitem de deixar a lista, alguns nao permitem nem publicidade porque têm eventos próprios, e outros só aceitariam se fosse pra ganhar comissao.

O bom é que na quinta descobri que nao preciso do nome das pessoas na lista. Basta que elas cheguem e entrem perguntando pelo meu nome pra que conte pra mim. Engraçado é que meu chefe nao tinha deixado essa parte clara e, na minha inexperiência, eu nao perguntei e entendi tudo errado - afinal, no Brasil e na maior parte das discotecas você tem que colocar seu nome através do site pra ter algum benefício.

Na quinta, tentei convencer muita gente mas nao rolou. Cheguei a ter 8 pessoas, mas como achava que teria que levar as 15, 4 desistiram e fiquei só com 4. Só que na porta o segurança nao deixou a Mari e a Talita entrarem porque estavam sem documento original e nao vale carteiriha de estudante. Aí eu me retei e fui com elas, que sao ecanas, e com os outros ecanos e conhecidos pra Joy, que é outra discoteca.

Na sexta, consegui 8 pessoas, porque dois amigos entraram duas vezes. Mas nao pagam proporcionalmente, entao nao rola. O lance de entrar mais de uma vez foi acidental, nao foi por mal. É que 2 amigos eles chegaram antes, entraram. Aí saíram pra entrar com mais duas pessoas e entraram de novo. Só que 3 foram embora e 1 ia ficar lá dentro sozinho, aí saiu pra me esperar, e logo este quando resolveu entrar nao pôde por estar sem documento.

No sábado, eu fui num aniversário de um brasileiro, o Marcos, que conheci na quinta-feira na Joy e já entrou pro meu grupo de amigos aqui. Tinha milhares de pessoas. Fiz social, falei com um monte de gente. Consegui um grupo de 15 pessoas pra levar junto comigo e ainda tinha uma italiana que pediu 10 flyers pra ir com os amigos dela.

Quando chegamos na porta, o segurança olhou pra mim e falou: com esta roupa você nao entra aqui nem pra trabalhar. Foi uma putaria, chamei meu chefe, falei que era ridículo, que nao tinha o menor sentido isso. Eu estava com uma blusa preta, uma calça tactel preta e um tênis preto. Super elegante, só nao estava vestido pra ir a um casamento, afinal aquela merda é uma discoteca!

E cansei de ver gente de camiseta e calça jeans lá dentro. Enfim, meu chefe ainda me deu bronca, falando que eu nao tava bem mesmo e querendo saber pq eu nao fui com a mesma roupa do dia anterior. Aí eu disse que estava com a mesma calça e o mesmo sapato, e ele nao acreditou. E ficou nessa. Aí eu disse: blz, vou pra casa, troco de roupa e já volto, tudo bem? Tudo.

Mais um problema: advinhem se as 15 pessoas que eu ia colocar estavam com documentos originais? A maioria era de fora da Espanha, sao estudantes de intercâmbio também. Entao saem com a carteirinha de estudante, onde tem foto, data de nascimento e nome completo, e levam junto o cartao do metrô que é um documento oficial. Mas nao puderam entrar, e como nao iam entrar 4 e deixar 11 do lado de fora, nao entrou ninguém.

Fiquei PUTO, e falei pro meu chefe que nao tem condiçoes de trabalhar assim, que era ridículo o lance da roupa, que eu estava melhor vestido que a maioria das pessoas que entravam com calça jeans (e sim, jeans pode, tactel mais elelgante, nao). E falei que era injusto eu ter ralado pra caramba pra colocar as 15 pessoas e por causa de um segurança fdp eu nao receber meu salário. E que além do mais era a maior queimaçao, porque a maioria dos barrados nunca mais ia querer voltar ali. Enfim, nao entrei e nao troquei de roupa. Fui pra casa e dormi revoltado.

Só que no domingo comecei a contar as pessoas que tinham ido mesmo e cheguei a um número de12 pessoas.

Sendo que a italiana que pediu os 10 flyers estava presente. E como ela nao iria sozinha, se ela foi com mais 3 amigos eu bati a meta. Aí liguei pro meu chefe pra perguntar se ele tinha conferido minha lista e ele disse que nao. Falei que confirmei com as pessoas e que tenho certeza de que foram mais de 15. E perguntei se tem problema o fato de eu nao ter entrado na discoteca, porque em teoria eu teria que entrar e ficar 3 horas lá dentro. Aí ele falou que acha que nao, que ia perguntar ao Jesus, que é o mandachuva, pra saber da lista e se teria algum problema eu nao ter entrado.

Sei lá. É muita frescura. Eu odeio esse tipo de ambiente onde as pessoas sao barradas porque um segurança quarentao frustrado nao vai com a cara delas. Nao voltaria nunca mais se nao trabalhasse ali. O que nao falta em Madrid é lugar pra sair. E apesar de curtir ir pra discotecas, ir pra Joy toda quinta já me satisfaz e sempre entramos grátis. E eu nao faço a menor questao de sair de balada 3 dias na semana, porque uma hora enjoa.

Fora que tou com medo de nao me pagarem, porque é muita enrolaçao, cada dia tem novidade pro meu lado e eu já vi que o segurança nao vai com a minha cara - sempre que eu estou junto ele faz de tudo pra prejudicar meus convidados, e quando eu nao estou a coisa muda (as espanholas que moram comigo, por exemplo, tinham uma amiga sem RG e que ele deixou entrar só com o cartao do metrô).

Vou tentar mais uma semana. Com o lance da lista aberta, posso montar excursoes dos albergues pra lá, e minha principal idéia é levar os alunos de intercâmbio através da ESN. Essa semana passo pra falar e tentar conseguir isso. E se levo gente na quinta, ótimo. Já ajuda a reduzir as listas de sexta e sábado.

E se nao pagarem esse fds, depois dos "15 dias", adiós e nunca mais.

Continuo procurando trabalho. Afinal, nao dá pra me matar de fazer social e ganhar, na mehor das hipótesis, só 120 euros. Prefiro ser garçom: ganharia muito mais mesmo trampando mais, mas pelo menos o dinheiro seria certo e eu poderia continuar fazendo amizade com as pessoas por prazer, sem obrigaçao de chamar elas e saber que sua presença me traz alguma vantagem.

segunda-feira, 9 de março de 2009

O melhor e pior trabalho do mundo


Depois de muito procurar e mandar currículos, eu finalmente consegui um trabalho!

Recebi uma ligaçao marcando entrevista na terça passada, na quarta fiz uma entrevista rápida num café italiano perto da Plaza Mayor e na quinta já comecei oficialmente a trabalhar.

Meu cargo é de Relaçoes Públicas pra uma mega discoteca de Madrid, chamada Reina Bruja
Na verdade, o que eles chamam de Relaçoes Públicas nada mais é que "promoter". Minha funçao é convidar amigos e conhecidos pra ir à discoteca e entrarem sem pagar.

Perguntando na entrada pela minha lista, eles têm acesso gratuito até 1:30, de quinta a sábado, e ainda contam pontos pra mim. Também posso entregar flyers com o meu nome pras pessoas na rua, e cada uma delas também conta pro meu total.

E mais uma vantagem: eu entro de graça a qualquer hora, e ganho 2 bebidas por noite.

Resumindo: balada gratuita de quinta a sábado com os amigos e ainda duas bebivas. Perfeito, né?

Agora vamos à realidade:

- Eu trabalho com uma meta. Preciso de 15 pessoas por noite ou nao me pagam, mesmo que coloque 14.

- Duplicar o número de convidados nao significa ganhar o dobro. Com 30 pessoas na lista eu ganho só 10 euros a mais.

- 15 pessoas parece fácil. E no Brasil seria, já que as pessoas gostam mais de sair e todas as discotecas sao pagas. Já em Madrid é muitooo mais difícil, porque tem muitas opçoes pra noite e os madrileños nao sao muito chegados em sair de balada.

- Distribuir os flyer na rua é foda. As pessoas estao saturadas de flyers e cartoezinhos distribuídos no centro, e inclusive sao um tanto rudes na hora de dizer "nao". Fora que 99, 9% das pessoas que estao na rua à noite já saíram de casa sabendo o que vao fazer e nao topam mudar de planos.

- Nos arredores da discoteca ficam milhares de distribuidores de flyers. Se eu convido uma pessoa pra entrar pela minha lista mas ela pega um flyer e entra com ele, nao conta pra mim. E muitas vezes as pessoas se sentem mais seguras com o flyer do que em ter que perguntar pela lista de alguém que elas nao conhecem muito bem (e nao posso viver só com os amigos mais próximos...)

- O pagamento é feito a cada 15 dias. Nao tenho contrato e nao conheço quase ninguém da discoteca. Só conheço os meus chefes: um romeno chamado Adriano, que foi quem me contratou e é um Promoter com um cargo acima do meu, responsável por um grupo do qual eu faço parte. E a pessoa acima dele, um espanhol chamado Jesus que eu nao faço idéia de que cargo tenha na discoteca - só sei que o Adriano me apresentou como nosso chefe na sexta-feira e nada mais.
- O meu chefe sempre dá uma volta pela discoteca pra falar com os promotores e ver com quem eles estao. E ele inclusive comenta coisas do tipo: "Essas duas garotas estao ótimas, sao bonitas. É esse público que você tem que trazer mesmo".
- E por fim, a discoteca é um daqueles lugares onde podem te barrar só porque você nao está vestido adequadamente - em outras palavras, dentro do que o segurança na porta considera adequado. Eu abomino esse tipo de convençao social e nao costumo ir a esse tipo de lugar. É a coisa mais patética do mundo ter que ir a uma discoteca com sapato social, por exemplo, que é super desconfortável e muito pouco jovem. Inclusive quando fui lá, como cliente, entrei com a roupa que tava e ninguém falou nada. E nas outras discotecas de Madrid também. Mas nunca se sabe.

No próximo post conto os meus primeiros dias de trabalho.

A foto é do interior da Reina Bruja. O ambiente é super legal: as paredes e pilastras mudam de cor constantemente e a pista de dança é enorme. E tem dançarinas com pouca roupa e gogo-boys também...

segunda-feira, 2 de março de 2009

Arte brasileño en Madrid


No mês passado inauguraram uma mega exposiçao da Tarsila do Amaral aqui em Madrid, com direito a várias notas nos maiores jornais da cidade.

Por acaso, estava lendo o El País que tem sido distribuído na Complutense todos os dias quando me deparei com a pequena reportagem. Terminei de ler o jornal, arranquei o pedaço da página e guardei, esperando terminar a loucura das provas pra ir lá conferir de perto.

Gratuita, a mostra está na Fundación Juan March, um importante centro cultural da capital espanhola. É um prédio grande, moderno e discreto. As exposiçoes ficam no térreo e no subsolo tem um café (que nem cheguei a conhecer).



Fui no sábado de manha com os amigos ecanos de Madrid: Silvio, Bruna, Mari e Talita.

E todos concordaram com a qualidade da exposiçao: com exceçao do "Abaporu", todos os quadros mais famosos da artista brasileira estao reunidos alí, inclusive "A Negra" e "Operários".




E, além disso, há quadros de outros importantes modernistas como Anita Malfati, trechos de poemas de Mário e Oswald de Andrade, e até exemplares do manifesto Pau-Brasil e do manifesto Antropofágico.

Uma coisa legal foi a preocupaçao em contextualizar tudo, o que os fez trazer mapas, fotos antigas e outras obras anteriores relacionadas de alguma forma com as propostas de Tarsila, além de trechos de entrevistas e escritos da própria pintora.

Foi uma volta às aulas de literatura do terceiro colegial, podendo ver de perto os quadros que só tinha visto em livros, de uma geraçao de artistas que o meu pouco conhecimento de arte me permite eleger como uma das mais ousadas e interessantes. E até pude ler os artigos de capa da primeira ediçao da revista da Antropofagia, já que havia um exemplar bem conservado em uma das mesas de vidro do espaço. Muito legal!

Uma curiosidade: percebi que tinham muitos pais levando os filhos - crianças e adolescentes - pra ver a exposiçao. Tinha uma família, inclusive, em que o pai espanhol manjava de arte e ia explicando e contextualizando tudo pros filhos. É um costume que no Brasil eu nunca notei e que acho super válido.

O mais engraçado é que muitas das obras ali fazem parte de acervos de museus paulistas. Mas como a Tarsila é uma das artistas mais conhecidas - e respeitadas - fora do país, essas obras dificilmente ficam em seus museus de origem.


Sorte a nossa, já que podemos aproveitar a exposiçao mesmo estando a milhares de quilômetros de Sao Paulo.